A narrativa audiovisual contemporânea oscila frequentemente entre a revisitação solene do passado e o dinamismo voraz do entretenimento de massas. É neste espectro que encontramos produções que, embora díspares na geografia e no propósito, revelam a vitalidade da indústria. Em Portugal, o foco recai sobre a memória de abril, materializada na minissérie Salgueiro Maia – O Implicado, realizada por Sérgio Graciano. Esta obra, protagonizada por Tomás Alves e contando com nomes como Catarina Wallenstein, Filipa Areosa e José Condessa, propõe-se a dissecar a vida de uma das figuras mais emblemáticas da democracia portuguesa.
O Retrato Humano da Revolução
A História, feita de momentos decisivos e dos homens que os protagonizaram, encontra no 25 de Abril de 1974 um dos seus capítulos mais vibrantes. Se muito já foi narrado sobre aquela madrugada que redesenhou o país, esta produção procura ir além do mito, centrando-se no homem: Fernando Salgueiro Maia. O capitão que, liderando a Escola Prática de Cavalaria de Santarém, marchou sobre Lisboa, alterou irremediavelmente o curso político e social da nação. Contudo, a narrativa aqui explorada mergulha na formação desta personalidade, desde a infância até à idade adulta, revelando alguém simples, fiel e detentor de dois cursos superiores na Academia Militar.
Salgueiro Maia emerge não como um herói de pose estudada, mas como um líder nato, respeitado transversalmente por subordinados e superiores. A sua atitude, pautada pela modéstia e por um sentido de dever inabalável para com a sua missão e a sua Arma, confere-lhe o estatuto de anti-herói, o rosto improvável de uma mudança sísmica. Nunca renegou o seu papel crucial, embora tivesse dificuldade em ver-se como o ícone da Revolução. A complexidade da sua figura reside precisamente nessa dualidade: foi amado e temido, odiado e, posteriormente, afastado por quem via na sua frontalidade e ausência de medo uma ameaça. Acima de tudo, a obra recorda-nos que Maia foi português, militar e cidadão.
A Hegemonia da Animação na Ásia
Enquanto a ficção nacional perscruta a identidade histórica, do outro lado do globo, os números da indústria cinematográfica revelam tendências de consumo avassaladoras. No mercado sul-coreano, o fim de semana de 28 a 30 de novembro ficou marcado pelo domínio absoluto da sequela da Disney, Zootopia 2. A animação registou uma abertura impressionante, arrecadando 10,8 milhões de dólares e mobilizando 1,62 milhões de espectadores em 2.382 salas. Segundo os dados do KOBIS, serviço gerido pelo Conselho de Cinema Coreano, se incluirmos as antestreias, o filme acumula já 13,7 milhões de dólares. Este arranque fulgurante garantiu à produção uma quota de mercado de quase 80%, eclipsando toda a concorrência.
Perante tal hegemonia, as restantes produções lutaram pelas migalhas. O filme Wicked: For Good, da Universal, segurou a segunda posição com pouco mais de 950 mil dólares, elevando o seu total para 5,4 milhões após duas semanas em cartaz. No terceiro posto surge Now You See Me: Now You Don’t, da Lionsgate, que amealhou cerca de 798 mil dólares, perfazendo um total acumulado superior a 8 milhões. O cinema de animação japonês também marcou presença, com Chainsaw Man The Movie: Reze Arc a ocupar o quarto lugar, somando receitas que contribuem para um total acumulado de 23,9 milhões de dólares.
O Panorama das Produções Locais e de Culto
A tabela de bilheteira reflete ainda a diversidade do gosto do público coreano, onde há espaço para dramas japoneses como Kokuho, que fecha o top cinco, e sucessos locais premiados como The World of Love, que ultrapassou a barreira do milhão de dólares em receitas totais. Nota-se também a persistência de fenómenos de longa duração, como Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba – The Movie: Infinity Castle, que continua a somar receitas, atingindo um total colossal de 41,5 milhões de dólares.
Entre as novidades, destaca-se a estreia, na oitava posição, da comédia de ação sul-coreana The Informant. O filme, realizado por Kim Seok e protagonizado por Heo Sung-tae e Jo Bok-rae, narra a história de Tae-bong, um informador de operações de contrabando cuja cobertura é exposta. A trama adensa-se quando o desastrado detetive Nam-hyuk entra inadvertidamente no caos, enquanto arquitetava o seu próprio plano. Forçados a uma aliança desconfortável, este par improvável tenta recuperar as perdas e derrubar os criminosos, numa dinâmica que atraiu pouco mais de oito mil espectadores na estreia.
A lista dos dez mais vistos encerra com um toque de cinema de autor, onde a versão restaurada do clássico de Sergei Parajanov, A Cor da Romã (The Color of Pomegranates), conseguiu angariar cerca de 36 mil dólares. Este dado curioso demonstra que, mesmo num mercado dominado por blockbusters de animação e comédias de ação, ainda subsiste um lugar, ainda que modesto, para a preservação e apreciação da arte cinematográfica clássica.
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