A economia portuguesa regista desenvolvimentos significativos tanto na frente interna de rendimentos como na captação de investimento estrangeiro. O Governo prepara-se para propor um aumento do salário mínimo nacional para 860 euros em 2025, enquanto, simultaneamente, a operadora europeia de centros de dados AtlasEdge assegurou um financiamento verde de 253 milhões de euros para a sua expansão em Lisboa, reforçando a posição do país no setor digital.
A Proposta de Aumento do Salário Mínimo
O Governo vai avançar com uma proposta de aumento da Remuneração Mínima Mensal Garantida (RMMG) para 860 euros no próximo ano. Esta informação, apurada junto de fontes ligadas ao processo, será formalmente apresentada aos parceiros sociais na reunião de Concertação Social agendada para esta quarta-feira, 11 de setembro. O valor representa uma subida de 40 euros face aos atuais 820 euros, resultando num aumento de cerca de 4,9%. Esta percentagem situa-se acima da previsão do Governo para o crescimento nominal da economia, estimada em cerca de 4,5%.
Acordo Anterior e a Meta dos Mil Euros
A nova proposta de 860 euros supera o valor anteriormente estabelecido no acordo de rendimentos, celebrado em 2022 pelo Governo de António Costa com as confederações patronais e a UGT, que previa 855 euros para 2025. O atual executivo considera existir margem para ir mais longe. Já em junho, a ministra do Trabalho, Maria do Rosário Palma Ramalho, não tinha descartado a hipótese de ultrapassar o valor acordado. Este passo insere-se na ambição do Governo de atingir um salário mínimo de mil euros até ao final da legislatura, em 2028, uma promessa eleitoral de Luís Montenegro.
A Posição dos Parceiros Sociais
Por lei, o Governo é obrigado a ouvir os parceiros sociais sobre a trajetória do salário mínimo, embora a decisão final lhe pertença, mesmo sem consenso. As posições são distintas: a CGTP já declarou que exige mil euros no próximo ano, justificando com o “aumento brutal do custo de vida”. A UGT, por sua vez, indicou haver condições para atingir os 890 euros. Do lado patronal, a Confederação do Comércio e Serviços (CCP) prefere aguardar pela proposta formal do Governo. Recorde-se que a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), liderada por Armindo Monteiro, recusou assinar a revisão do acordo no ano passado, por esta prever uma subida mais expressiva da RMMG sem a contrapartida de medidas de fomento da produtividade.
Investimento Digital: AtlasEdge Assegura 253M€
Paralelamente ao debate sobre os rendimentos, o setor tecnológico português regista um forte investimento. A AtlasEdge, operadora europeia de centros de dados, anunciou ter assegurado 253 milhões de euros (cerca de 294,8 milhões de dólares) em financiamento verde. Este montante destina-se a apoiar o desenvolvimento do seu campus em Lisboa, especificamente a construção dos dois primeiros edifícios (LIS001 e LIS002). Estas duas instalações irão disponibilizar uma capacidade combinada de 21,1 MW.
Detalhes do Financiamento e Expansão
O financiamento foi estruturado como um Título de Dívida (Term Bond) sénior garantido, com maturidade de sete anos, e divide-se em duas tranches: 63 milhões de euros para a construção do LIS001 e 190 milhões para o LIS002. A operação foi liderada pelo Banco Santander e pelo ING, que atuaram como bookrunners, tendo o ING desempenhado o papel de Coordenador Único de Sustentabilidade. A AtlasEdge, formada em 2021 (uma joint venture entre a Liberty Global e a DigitalBridge), iniciou a sua atividade em Portugal em abril de 2024, em Carnaxide.
Um Campus de 500 Milhões em Três Fases
O investimento total previsto para o campus de Lisboa ascende a 500 milhões de euros, com o objetivo de atingir 30 MW de capacidade em três fases. O LIS001 foi inaugurado esta semana, com a sua capacidade já totalmente contratada por “clientes de topo”, prevendo-se que entre em serviço no final de 2025. O LIS002 está em fase de planeamento, com data de operacionalidade marcada para 2028. A AtlasEdge adquiriu ainda um terreno contíguo de 10.000 m² para o terceiro centro de dados do campus, o LIS003.
Lisboa Reforçada como Hub de Conectividade
Tesh Durvasula, CEO da AtlasEdge, salientou o “impulso” que a empresa está a ganhar na Península Ibérica, descrevendo o campus sustentável e estratégico como um “divisor de águas” para o mercado português. Representantes das entidades financiadoras partilharam deste otimismo. Sicco Boomsma, do ING, afirmou que “o apetite pelo setor de centros de dados está mais forte do que nunca”. Robert Drew, do Banco Santander, sublinhou o “compromisso com a infraestrutura digital e o desenvolvimento sustentável em Portugal”, que reforça o “papel de Lisboa como um hub de conectividade regional”.
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