Ana Leça: “A pandemia gerou medos, sendo fundamental promover a confiança na vacinação”
Considera que atuais números de vacinação em Portugal são um fator positivo?
O Programa Nacional de Vacinação é avaliado anualmente, com monitorizações semestrais. Aguarda-se a divulgação da avaliação do PNV referente ao ano de 2020, estando disponíveis alguns dados referentes ao 1º semestre de 2020 no site da DGS (www.dgs.pt ). Tendo em conta o contexto de pandemia, os resultados do 1º semestre de 2020 são muito positivos. No entanto, apesar dos resultados serem semelhantes aos do 1º semestre de 2019, verificou-se uma ligeira diminuição da proporção de crianças vacinadas na idade recomendada (vacinação atempada) aos 12 meses de idade. Isto significa, a título de exemplo, que se prolonga a suscetibilidade ao sarampo, doença muito contagiosa, potencialmente grave e com elevado potencial para gerar surtos.
A avaliação do ano 2020 completo vai permitir à DGS uma apreciação mais robusta de eventuais repercussões da pandemia no cumprimento do PNV.
O PNV é o Programa mais antigo e mais custo-efetivo de todos os Programas Nacionais. Foi desenvolvido ao longo de décadas, de forma consistente, adaptado às necessidades da Saúde Pública e dos cidadãos
A pandemia não pode significar risco acrescido de reemergência de doenças já controladas/eliminadas! O PNV precisa de continuar forte e abrangente, é essencial garantir e promover a vacinação recomendada ao longo da vida!
Quais continuam a ser os principais desafios em matérias de vacinação? Quais as doenças vacináveis que continuam a gerar maior preocupação?
Os desafios, em Portugal e provavelmente nos outros países, colocam-se a 3 níveis: o nível da vacinação, ou seja, das estratégias mais adequadas no âmbito do PNV, o nível das vacinas, e o nível da aceitação, de importância crescente.
Em relação à vacinação, no contexto atual de pandemia, é essencial que se mantenham as coberturas vacinais e a vacinação nas idades recomendadas pelo PNV.
E também importante manter a capacidade de continuar a analisar corretamente a dinâmica das doenças e dos agentes, de prever e avaliar o efeito epidemiológico da vacinação, da capacidade de balancear os ganhos individuais versus os ganhos coletivos e de saber definir as reais e objetivas prioridades em matéria de vacinação. Igualmente importante é poder avaliar regularmente o PNV de forma a implementar atempadamente, e sempre que necessário, as medidas ou correção que se revelem importantes. E isto implica bons sistemas de registo e notificação, assim como avaliações serológicas que informem sobre o estado imunitário da população.
É preciso não esquecer que as vacinas são um bem finito. Só podemos manter as metas do PNV se tivermos vacinas e estiver garantido o seu fornecimento contínuo. E neste ponto estamos dependentes das empresas que fabricam as vacinas e da procura de vacinas a nível global. E também precisamos, nós e o mundo, de melhores vacinas, nomeadamente contra a tuberculose e contra a tosse convulsa.
No que se refere à aceitação é muito importante saber lidar com a crise de confiança nas vacinas, extremamente potenciada pelas redes sociais, o que implica a formação e capacitação dos profissionais de saúde para que respondam adequadamente a estes fenómenos de importância crescente.
Em relação às doenças evitáveis pelas vacinas do PNV, para além das doenças já eliminadas/controladas em virtude das elevadas coberturas vacinais, espera-se, num futuro mais ou menos próximo, o controlo/eliminação das doenças evitáveis por vacinas introduzidas mais recentemente, nomeadamente a doença invasiva pneumocócica, a doença invasiva por meningococo B e a doença por 9 genótipos do papiloma vírus humano.
Pelo seu elevado grau de contagiosidade, porque não está eliminado em muitos países europeus e a nível global, e por ser potencialmente grave, não quero deixar de referir a vacina contra o sarampo e a importância da vacinação atempada, nomeadamente a 1ª dose aos 12 meses.
O Programa Nacional de Vacinação, já com 55 anos, sofreu o ano passado algumas alterações relativamente à vacinação pediátrica. Vê esse ponto como uma alteração benéfica?
As alterações do PNV ao longo do tempo foram feitas tendo em vista a sua melhoria. As vacinas que integram o PNV são eficazes e seguras e da sua aplicação obtêm-se ganhos em saúde, para o indivíduo e para a comunidade.
As decisões da CTV baseiam-se em recomendações baseadas na evidência, tendo em vista ganhos em saúde, num processo sistemático, credível e transparente, que tem como base de discussão o disposto no documento do SIVAC, organismo da OMS de suporte às Comissões de Vacinação. Este documento baseia-se em 4 eixos fundamentais: as características da doença, as características da vacina, considerações económicas, operacionais, da política de saúde e do próprio programa.
O PNV sempre foi um programa dinâmico, com introdução progressiva de mais vacinas (só foi retirada a vacina contra a varíola) e atualização dos esquemas vacinais em função:
- de fatores epidemiológicos, como por ex. a introdução, em 2017 da vacina contra a tosse convulsa para as mulheres grávidas para proteção dos bebés até aos 2 meses (idade em que iniciam a vacinação), na sequência da reemergência da doença em 2012, ou a mudança da estratégia do BCG que passou a ser administrado apenas às crianças de risco. A vacina contra a varíola saiu do PNV após a OMS ter certificado a erradicação da varíola, a nível global, em 1980.
- da evolução tecnológica com disponibilidade de mais vacinas, que permitiu por exemplo a substituição da vacina tetravalente contra papiloma vírus humano (HPV4) pela vacina nonavalente HPV9, ou a inclusão da vacina MenB no PNV 2020.
- ou de nova evidência científica que permitiu, por exemplo, alterar o esquema vacinal contra o tétano ao longo da vida (2017), ou o esquema vacinal contra HPV até aos 14 anos (2014), em ambos os casos com redução do nº de doses.
A introdução de algumas vacinas no PNV fez-se simultaneamente com campanhas de vacinação, tendo em vista um reforço da efetividade do programa, pois imunizar rapidamente o maior número possível de pessoas permite obter o controlo rápido da doença através da imunidade de grupo. O PNV iniciou-se com uma grande campanha contra a poliomielite, e posteriormente houve campanhas de vacinação, aquando da introdução da vacina contra o sarampo e da vacina contra o meningococo C. No caso do da vacina HPV a campanha pretendeu complementar a vacinação de rotina, protegendo um maior número de jovens.
Para além destas, ao longo do tempo foram várias as campanhas complementares de vacinação contra o sarampo (a última das quais teve lugar em 2017/2018) determinadas por fatores epidemiológicos e projeções por modelação matemática, de modo a eliminar bolsas de suscetíveis e prevenir a ocorrência de surtos.
Qual a importância da Semana Mundial da Vacinação, criada pela Organização Mundial de Saúde?
Este ano, a OMS Europa elegeu como lema da Semana Europeia da Vacinação 2021, que decorrerá entre 26 de abril e 2 de maio, “Vaccines bring us closer”, traduzido por “As vacinas aproximam-nos”.
Este lema pretende reforçar a consciencialização sobre a importância da vacinação como um bem público que salva vidas e protege a saúde e visa aumentar a cobertura vacinal e contribuir para a cobertura universal de saúde.
Em minha opinião é muito importante realçar este tema no momento atual. A pandemia gerou dúvidas, medos e incertezas, sendo fundamental, hoje mais do que nunca, promover a confiança na vacinação e lutar contra a desinformação.
Os residuais movimentos antivacinação são uma problemática em termos de saúde pública?
Sim, os movimentos antivacinação são sempre preocupantes.
Atualmente, a maior importância é dada aos que hesitam, pois há um grande potencial para reverter a situação em favor da vacinação. O conceito de “hesitação em vacinar” (OMS) é um continuum entre a aceitação sem dúvidas e a recusa sem dúvidas, um grupo muito heterogéneo em que por exemplo, se encontram pessoas que aceitam, mas duvidam, que aceitam apenas algumas vacinas recusando outras, que atrasam as vacinas num calendário vacinal próprio que vai ter efeitos na imunidade de grupo, ou que recusam sem convicção.
No caso específico de Portugal, as coberturas vacinais elevadas indicam que a vacinação é uma medida de saúde pública muito bem aceite, mas mesmo alguns dos pais que vacinam os filhos têm dúvidas e têm medos, o que significa que a hesitação em vacinar também existe entre nós, ou seja, as coberturas vacinais não são um indicador direto do nível de hesitação.
Foram desenvolvidos modelos para perceber os factores e determinantes da hesitação em vacinar, de forma a identificar e caracterizar cada caso ou grupo de casos e quais os problemas mais referidos, permitindo uma orientação individualizada. Vou dar alguns exemplos.
Uma das causas de hesitação é o próprio sucesso dos programas de vacinação, com controlo das doenças e, consequentemente, ao seu esquecimento e desvalorização. E então surgem mitos e a inversão da perceção de risco com mais medo da vacina do que das doenças evitáveis pela vacinação, muitas das quais são atualmente muito raras.
Sabemos que é cada vez maior a importância do papel dos contactos sociais, da comunicação social e da internet e também sabemos que, ao contrário dos determinantes sociais da Saúde, os determinantes da hesitação em vacinar como a educação ou o status sócio-económico não influenciam numa única direção, ou seja, mais educação e cultura podem estar associados a níveis elevados ou baixos de aceitação das vacinas.
Sabemos que uma das dúvidas mais frequentes se prende com a sobrecarga do sistema imunitário, em programas de vacinação com um número muito elevado de vacinas, principalmente no 1º ano de vida. No entanto, apesar de mais vacinas, a carga antigénica tem diminuído substancialmente ao longo do tempo, fruto da evolução tecnológica.
Todos os estudos apontam para que os profissionais de saúde representam a maior fonte de aconselhamento sobre vacinas, mas que o seu papel tem diminuído ao longo dos anos em favor dos familiares, amigos e internet.
Há que investir na formação dos profissionais de saúde, capacitando-os para saberem manter a confiança na vacinação, através de um diálogo franco e honesto com os que hesitam em vacinar, numa abordagem individualizada e objetiva.
Nota: Texto escrito na ortografia prévia ao A.O. de 13 de Maio de 2009
A Vacinação Aproxima-nos
A semana da imunização está a decorrer de 24 a 30 de abril, para assinalar a data a
Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a campanha “A Vacinação Aproxima-nos. A campanha pretende mostrar às pessoas como as vacinas nos fazem aproximar das outras pessoas, dos nossos objetivos e viver os momentos que mais importantes, ajudando ao mesmo tempo a melhorar a saúde de todos os seres humanos, em qualquer parte do mundo.
Este ano têm-se falado muito sobre a vacinação, devido à situação pandémica que estamos a viver, por isso a OMS acredita que nesta semana da imunização oferece a oportunidade de criar confiança pública em todas as vacinas.
A campanha
Os principais objetivos da campanha são:
Reformular as conversas globais acerca da vacinação e focá-las na importância das vacinas;
Destacar as várias formas pelas quais as vacinas nos permitem viver de maneira saudável e produtiva, evitando a propagação de doenças, que são evitáveis com a vacinação;
Mostrar que o público já valoriza e confia nas vacinas;
Construir solidariedade e confiança na vacinação, mostrando que esta é um bem público que salva vidas e protege a saúde pública.
Nas redes sociais a campanha vai decorrer com o uso da hashtag #VaccinesWork.
“A Vacinação Aproxima-nos” quer divulgar três mensagens essenciais:
1ª – As vacinas aproximam-nos de fazer o que amamos e estar com quem amamos
Os esforços que têm sido feitos em conjunto para manter os entes queridos e comunidade protegidas vão ser agora compensados. Com a ajuda das vacinas e das medidas que já têm vindo a ser adotadas (distanciamento)
Agora, as vacinas, somadas ao uso de máscara e distanciamento físico, oferecem-nos um caminho para podermos regressar ao “normal” e acabar com a pandemia.
2ª – As vacinas aproximam-nos de um mundo onde ninguém morre ou sofre de uma doença que pode ser evitada com a vacina
As vacinas são uma das maiores inovações científicas de todos os tempos. No século passado, aproximaram-nos do fim da poliomelite e a erradicar a varíola. Graças às vacinas, milhões de pessoas, em todo o mundo, vivem saudáveis e protegidas de doenças que as mesmas evitam, como o sarampo.
Nos últimos 30 anos, graças às vacinas, as mortes infantis diminuíram em cerca de 50%.
Ainda assim, muitas crianças não tomam as vacinas básicas infantis, por isso um dos objetivos da OMS é aumentar o acesso à vacinação em todos os países.
3ª- As vacinas aproximam-nos de um mundo mais saudável e próspero
As vacinas são uma das melhores ferramentas que dispomos para melhorar a saúde e bem-estar em todo o mundo.
A imunização ajuda as crianças a crescerem e tornarem-se adultos saudáveis. Com a vacinas podem frequentar as escolas e serem letradas, e os pais podem trabalhar e melhorar a sua vida financeira.
As vacinas já nos aproximaram e vão voltar a aproximar-nos
No site oficial, a OMS destacou que aos longo de 200 anos as vacinas protegeram as pessoas contra doenças que ameaçam vidas e impedem o desenvolvimento humano. Com a ajuda delas já podemos progredir e evitar doenças como a varíola e a poliomielite, que no passado custaram à humanidade centenas de milhões de vidas.
Face à pandemia que estamos a viver, as vacinas não são um milagre, mas vão ajudar-nos a “estar novamente juntos”.
Estas continuam a desenvolver-se e estão a fazer com que nos aproximemos de um mundo livre de doenças, como a tuberculose e o cancro do colo do útero e com o sofrimento de doenças infantis como o tétano e o sarampo.
Os investimentos e novas pesquisas que estão a ser feitos, possibilitam as abordagens inovadoras para o desenvolvimento de vacinas que estão a mudar a ciência da imunização para sempre, e estão a aproximar-nos de um futuro mais saudável.
Uma parte importante da solução para a pandemia, mas não a única
Vários cientistas de todo o mundo, estão a trabalhar o mais rápido que conseguem para colaborar nas vacinas existentes contra a covid-19, de modo a inová-las e torná-las cada vez mais seguras, para que continuem a ser uma ferramenta muito importante na luta contra a doença.
Além da vacinação, manter o uso de máscara, distanciamento físico, e evitar multidões, são outras das ferramentas de combate ao vírus. A OMS destaca “juntos, podemos acabar com a pandemia covid-19 e alcançar um mundo mais saudável para todos”.
Afinal o que são vacinas?
As vacinas são uma preparação de antigénios, administradas num indivíduo e provocam uma resposta imunitária. São similares à da infeção, mas induzem à imunidade sem riscos para os vacinados.
Os antigénios das vacinas podem ser vírus ou bactérias inteiras, mortos ou atenuados, ou fragmentos desses microrganismos, como partes da parede celular de uma bactéria ou toxina inativada.
Ao contrário dos medicamentos, as vacinas têm uma ação preventiva e não de tratamento ou cura.
E porque nos devemos vacinar?
A vacinação serve para nos protegermos a nós e a quem nos rodeia.
A OMS apresenta cinco razões para nos vacinarmos:
- As vacinas salvam vidas
Antes da vacinação se tornar rotina na vida das crianças, as doenças infeciosas eram a principal causa de morte na infância, causando também sofrimento e incapacidades permanentes.
Com o elevado número de pessoas vacinadas, tem-se conseguido controlar doenças que são evitáveis pela vacinação, o que levou a uma enorme diminuição do número de mortes e de incapacidades.
- Os surtos de doenças evitáveis pela vacinação são ainda uma grande ameça para todos
Devido ao sucesso dos programas de vacinação, a maioria das pessoas desconhece a gravidae das doenças que são evitáveis pela vacinação, fazendo com que não se apercebam da importância e dos ganhos que as vacinas conferem.
No entanto, à exceção da varíola (considerada erradicada pela OMS em 1980), os microrganismos responsáveis pelas doenças evitáveis pela vacinação continuam a existir na comunidade, e são uma ameaça à saúde de todos os que não estão protegidos pelas vacinas (exemplo: surtos de sarampo na Europa, que ocorrem, maioritariamente, em pessoas que não estão vacinadas).
- As doenças podem ser controladas e eliminadas
Com a vacinação sustentada e em grande escala, as doenças como o sarampo podem ser eliminadas da Europa, à semelhança do que aconteceu com a poliomielite e a varíola.
Para que isto seja possível, é necessário que uma grande percentagem da população adira aos programas nacionais de vacinação.
- A vacinação é custo-efetiva
O custo da vacina compensa largamente, os custos associados ao tratamento das doenças e as suas complicações, que incluem a morte.
- Para se conseguir controlar uma doença, é necessária uma grande proporção de pessoas vacinadas
Por exemplo, a eliminação do sarampo, requer que pelo menos 95% das pessoas estejam vacinadas. Cada pessoa que não vacinada corre o risco de adoecer e aumenta o risco de transmitir a doença na comunidade.
Como e onde me posso vacinar?
A vacinação é um direito básico de toso os cidadãos, e todas as pessoas têm acesso à vacinação gratuita e segura – o programa nacional de vacinação permite que todas as pessoas recebam as vacinas de acordo com a idade.
O programa nacional de vacinação é universal, gratuito e acessível a todas as pessoas presentes em Portugal. O objetivo é proteger os indivíduos e a população em geral contra as doenças com maior potencial de construírem ameaças à saúde pública e individual, e para as quais há proteção eficaz por vacinação.
As vacinas que integram o plano nacional de vacinação, são as vacinas de primeira linha, ou seja, são comprovadamente eficazes e seguras. Além disso, que com a sua aplicação reverte em ganhos maiores para a saúde. Estas vacinas são administradas em centros de saúde e unidades hospitalares acreditadas, não necessitam de receita médica, nem é necessário ter médico de família.
As vacinas que não fazem parte do programa, podem ser prescritas por um médico e adquiridas em farmácias. A administração destas, pode ser realizada em centros de saúde, unidades hospitalares acreditadas, em algumas farmácias ou ao domicílio por profissionais de saúde habilitados.
Fontes: Organização Mundial da Saúde e Ferreira da Cunha Saúde
Médicos de Família destacam a importância da vacinação ao longo da vida
Na Semana Europeia da Imunização, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar alerta para a importância da vacinação.
A Assciação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) alerta que a pandemia veio acentuar ainda mais a importância da vacinação. Esta ajuda na prevenção de doenças graves e há vacinas que devem de ser tomadas ao longo da vida.
O presidente da APMGF, Nuno Jacinto, afirmou à Agência Lusa que “esta pandemia veio acentuar ainda mais a importância da vacinação e da imunização”, salientado que as vacinas são “uma das medidas de saúde pública com mais impacto e mais efetivas”, pois previnem contra muitas doenças, algumas delas mortais e a maioria contagiosas.
Nuno Jacinto recordou que a vacinação é importante em todas as idades, e não apenas na infância, dando o exemplo das vacinas contra a gripe, a pneumocócica e o tétano.
“Estamos muito habituados à vacinação, sobretudo na infância, e questionamos menos, mas a vacinação do adulto também existe. (…) Grande parte das vacinas são feitas logo nos primeiros anos de vida, mas começamos já a ter vacinas no Programa Nacional de Vacinação (PNV) para os adolescentes, como a do HPV, agora também para os rapazes, e a pneumocócica, para os doentes de risco e idosos”, declarou.
O presidente da APMGF reconheceu que muitas são administradas na primeira infância, o que “permitiu controlar muitas doenças infeciosas e baixar a mortalidade e a mortalidade infantil”, lembrando que a vacinação “é eficaz sempre e ao longo da vida”. Por isso, é fundamental “continuar a passar a mensagem de tranquilidade, confiança e importância das vacinas”, que tem sido uma das prioridades nos cuidados de saúde primários.
“Sempre tivemos a preocupação de manter ao máximo a vacinação e as vacinas do PNV, tal e qual como estavam prescritas. Foi sempre uma indicação que demos: ‘Se tiver vacina para fazer, por favor não atrase a vacinação’”, afirmou.
Com a pandemia, o especialista reconhece que houve algum receio da população em dirigir-se às unidade de saúde e, no início, existiu uma quebra na vacinação, mas foi recuperada ainda em 2020. Destacando que, independentemente da evolução da pandemia “não podemos descurar as outras doenças e não podemos descurar a vacinação”.
Quanto às vacinas da gripe, considera-as essenciais “sobretudo nos grupos de risco”, frisando que na maioria dos casos é uma doença ligeira e autolimitada, que todos sabem identificar e até aplicar as medidas de proteção que entraram na rotina por causa da pandemia, mas que são válidas para todas as doenças contagiosas: uso de máscara, distanciamento, etiqueta respiratória e evitar contactos com outras pessoas quando se tem sintomas.
“Nos grupos de risco, nos idosos e nos imunodeprimidos merece muito a pena insistir nesta vacinação, porque aí não estamos a falar de doenças tão ligeiras, podemos ter complicações graves, internamesnto, mesmo a morte”, disse.
Nuno Jacinto, afirma que mesmo nas vacinas contra a covid-19, com todas as incertezas quanto aos efeitos secundários, “a vacinação suplanta em muito os riscos existentes”.
“Efetivamente, estas vacinas foram desenvolvidas num tempo recorde, um tempo muito mais breve do que o habitual nestas questões. Mas o que é um facto é que a evidência e os dados científicos apontam para que tenham enormes benefícios”, disse o presidente da APMGF, acrescentando: “Nós já temos visto isso, com a diminuição, na população vacinada, dos internamentos, das doenças graves e da mortalidade”.
Especialistas recomendam vacina contra a tosse convulsa em pessoas com DPOC
Os especialistas apelam às pessoas com DPOC para confirmarem se têm o boletim de vacinas atualizado.
Está a decorrer até dia 2 de maio a Semana Europeia da Vacinação. A Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD) adicionou a vacinação contra a tosse convulsa à lista de recomendações de vacinas para pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC).
A GOLD atualizou as recomendações de vacinas, recomendando a vacinação contra o tétano, difeteria e tosse convulsa para indivíduos com DPOC, que não foram vacinadas durante a adolescência. Já faziam parte da lista de recomendações a vacina contra a gripe e a antipneumocócica para pessoas com DPOC
Estas recomendações são estabelecidas por comités globais de especialistas, que desenvolvem documentos de estratégia baseados em evidência científicas para a DPOC e que se concentram na consciencialização e melhoria da prevenção e tratamento da patologia.
Esta atualização surgiu após um estudo americano, que concluiu que existe um número elevado de pessoas com DPOC hospitalizadas com tosse convulsa, comparado com a população em geral. As pessoas que sofrem desta doença respiratória apresentam maior risco de sofrer tosse convulsa.
Em adultos, os sintomas de tosse convulsa variam de uma tosse relativamente ligeira a uma doença grave e potencialmente fatal, podendo causar febre, ataques de tosse e pneumonia. Os sintomas comuns podem ser: tosse violenta e incontrolável, que dificulta a respiração, causando distúrbios do sono.
O diretor médico de vacina da GSK Portugal, Eduardo de Gomensoro, considera: “Ainda que a dimensão da tosse convulsa na infância tenha sido reduzida através dos programas de imunização infantil e maternal, podemos observar um aumento da doença em adultos, com idade entre os 20 e 50 anos e em pessoas mais velhas. A tosse convulsa em adultos é altamente sub-notificada, o que faz com que a incidência real seja substancialmente maior do que a expectável. Face a isto, é importante sublinhar a atualização das recomendações GOLD, na qual a vacinação contra a tosse convulsa deve ser considerada para os adultos com DPOC, uma vez que a tosse convulsa pode ter um impacto grave na saúde dos mesmos, levando a uma maior necessidade de recurso a cuidados de saúde/hospitalizações. A COVID-19 também veio reforçar que ter um problema respiratório ou ser um adulto de idade mais avançada pode significar maior vulnerabilidade a complicações de doenças infecciosas”.
A DOPC
A doença pulmonar obstrutiva crónica – DPOC, descreve um grupo de condições pulmonares que tornam difícil esvaziar o ar dos pulmões, pois as vias respiratórias estreitaram.
Duas destas condições são a bronquite crónica e o enfisema, que muitas vezes podem ocorrer em simultâneo. Pessoas com bronquite apresentam vias respiratórias estreitas ou inflamadas e produzem expetoração ou catarro. Quanto ao enfisema, os pequenos “sacos” de ar no final das vias respiratórias (alvéolos) rompem-se e os pulmões tornam-se menos elásticos e cheios de orifícios maiores que prendem o ar. Como resultado, a respiração é menos eficaz para mover o ar para dentro e para fora e os pulmões têm menor capacidade de absorção de oxigénio e de eliminar o dióxido de carbono. Além disso, o tecido pulmonar danificado tem menor capacidade de manter as vias respiratórias abertas, o que pode causar um preenchimento das mesmas com muco, provocando uma inflamação.
O diagnóstico precoce é importante, porque existem tratamentos disponíveis para ajudar os doentes a respirar com maior facilidade e permaneceram ativos.
Geralmente, a DPOC desenvolve-se devido a danos pulmonares de longo prazo provocados pela exposição a substâncias nocivas, como cigarros e outras fontes de fumo, e a poluição do ar. A exposição a poeiras, vapores e produtos químicos pode ainda contribuir para o desenvolvimento de DPOC.
Esta doença não pode ser curada ou revertida, mas para muitas pessoas o tratamento pode ajudar a manter a doença controlada, não limitando tanto atividades diárias dos doentes. Ainda que a persoetiva varie de pessoa para pessoa, para algumas, a DPOC pode continuar a piorar apesar do tratamento causar um impacto significativo na qualidade de vida e levar a problemas fatais.
Em Portugal, cerca de 14% da população com mais de 40 anos tem DPOC (800 mil pessoas), sendo a causa de morte de 21% do tatal de mortes por doenças respiratórias.
A Tosse Convulsa
A tosse convulsa é causada pela bactéria Bordetella pertussis, que infeta a mucosa do trato respiratório humano. É transmitida por indivíduos infetados através de gotículas respiratórias.
Tem um período de incubação de 7 a 10 dias, após este período as pessoas desenvolvem uma inflamação no nariz e na garganta, e tosse que, ao longo de 1 a 2 semanas, podem levar a espascomos de tosse que podem terminar com um guincho respiratório clássico.
A doença pode levar a uma broncopneumonia, com uma taxa de mortalidade relativamente alta, sendo o problema mais proeminente associado à tosse convulsa.
Após a introdução da vacinação contra a tosse convulsa durante os anos 1950-1960, houve uma redução muito elevada (mais de 90%) na incidência e mortalidade contra a doença no mundo industrializado. Esta vacina está disponível para o uso em adultos e crianças, e tem sido incluída no Programa de Imunização Expandido da OMS, desde 1974.
Em Portugal, a vacinação contra a tosse convulsa faz parte do Programa Nacional de Vacinação – é administrada a crianças a partir dos 2 meses e em todas as mulheres grávidas entre as 20 e 36 semanas de gestação.
Vacinação para o Futuro
Mais de um ano passou desde que foi decretado o primeiro estado de Emergência em Portugal. A covid-19 alterou de uma forma marcante a nossa realidade. Volvido este tempo, a vacinação é o ponto de charneira para o nosso regresso ao futuro. As vacinas trazem a esperança do reencontro e o sonho da normalidade.
A vacinação em Portugal começou em 27 de dezembro de 2020 e foram já administradas mais de 2 milhões e 900 mil vacinas. Um número muito elevado, mas ainda assim insuficiente para garantir a imunidade de grupo e a abolição das medidas preventivas. Dependemos, no entanto, do ritmo de entrega das vacinas. Apesar questões mediáticas e das múltiplas dúvidas colocadas e discutidas exaustivamente a adesão dos Portugueses tem sido grande. A opinião dos especialistas é também unânime:
Os benefícios da vacinação superam largamente os riscos.
Esta noção de risco, transposta agora para a sociedade e para tomada de decisão individual, é algo com que, nós médicos, lidamos diariamente. Ainda que a decisão seja – e deva ser partilhada – é também, por inerência da função e do conhecimento, uma responsabilidade assumida nas propostas de diagnóstico e terapêutica que oferecemos aos nossos consulentes. Assim, quando me questionam “o Dr. acha que me devo vacinar?” – Respondo com outras decisões com que cada um se confronta: – a toma da medicação habitual; a medicação que se toma por autoiniciativa; ou até do risco que assumimos ao atravessar uma estrada. Estamos constantemente a fazer escolhas e a assumir riscos. Vacinar é a escolha certa.
“As vacinas permitem salvar mais vidas e prevenir mais casos de doença do que qualquer tratamento médico”
Começava assim o Plano Nacional de Vacinação em 2012 e é bem expressivo da importância que a vacinação tem para a Humanidade.
Neste processo de vacinação os Cuidados de Saúde Primários assumem a dianteira. Têm sido as equipas de proximidade a garantir desde logo a vacinação aos residentes em Lares e depois a instalação e o funcionamento dos Centros de Vacinação. É assim, também, nos outros anos com o Programa Nacional de Vacinação (PNV). Segundo os dados do BI dos Cuidados de Saúde Primários, em 2019 foram administradas nos Centros de Saúde, cerca de 3 milhões e 630 mil vacinas do PNV e em 2020 o número sobe para perto de 3,9 milhões. Este ano o esforço será muito maior. Faço uma chamada de atenção para que se procure manter a restante atividade das nossas Unidades sem esgotar os recursos. É fundamental a consciência de que estes são finitos e a sua alocação a esta atividade poderá trazer consequências para os restantes cuidados prestados.
Esperamos colher frutos deste esforço em breve. O Futuro é já visível em países com maiores taxas de vacinados. Em Israel, por exemplo, a deixou de ser obrigatória a utilização da máscara em público e prossegue a abertura gradual dos serviços. Nos Estados Unidos o Centro de Controlo de doenças emitiu já recomendações menos restritivas de contactos por parte de pessoas com vacinação completa. Foi seguido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças que sugere um “relaxamento das medidas preventivas” para quem tenha completado a vacinação. São mensagens de esperança que devemos agarrar.
O fundamental é compreendermos que a vacinação global multiplica a importância individual da vacina. Cada pessoa com vacinação completa protege-se a si, à sua Família, aos seus conviventes, mas, mais do que isso, toda a Comunidade.
Todos conseguiremos.
Gil Correia
Médico de Família – USF Marquês de Marialva, Cantanhede
Membro da Direção Nacional da APMGF
Bibliografia:
Orenstein, W. A., & Ahmed, R. (2017). Simply put: Vaccination saves lives. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 114(16), 4031–4033. https://doi.org/10.1073/pnas.1704507114
Páginas consultadas:
https://bicsp.min-saude.pt/pt/biselfservice/Paginas/vacinas.aspx?
https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/vaccines/fully-vaccinated.html
https://www.sns.gov.pt/monitorizacao-do-sns/vacinas-covid-19/
https://www.publico.pt/2021/02/19/mundo/noticia/israel-so-certificado-vacinacao-ir-lado-1951336
https://www.publico.pt/2021/04/15/mundo/noticia/-israel-vai-deixar-obrigatoriedade-uso-mascara-exterior-1958767
Médicos de família alertam para importância da vacinação ao longo da vida
O presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Nuno Jacinto, afirmou que a pandemia veio acentuar ainda mais a importância da vacinação na prevenção de doenças graves, lembrando que há vacinas que devem ser tomadas ao longo a vida.
“Esta pandemia veio acentuar ainda mais a importância da vacinação e da imunização contra doenças graves”, afirmou Nuno Jacinto, sublinhando que as vacinas são “uma das medidas de saúde pública com mais impacto e mais efetivas”, que previnem contra muitas doenças, algumas delas mortais e a esmagadora maioria contagiosas.
Em declarações à agência Lusa a propósito da Semana Europeia da Imunização, o especialista reforçou que a vacinação é importante não só na infância, mas também na idade adulta, dando como exemplo as vacinas da gripe, a pneumocócica e a do tétano.
“Nós estamos muito habituados à vacinação, sobretudo na infância, e questionamos menos, mas a vacinação do adulto também existe. (…) Grande parte das vacinas são feitas logo nos primeiros anos de vida, mas começamos já a ter vacinas no Programa Nacional de Vacinação [PNV] para os adolescentes, como a do HPV, agora também para os rapazes, e a pneumocócica, para os doentes de risco e idosos”, afirmou.
Reconhecendo que muitas vacinas são administradas na primeira infância, o que “permitiu controlar muitas doenças infecciosas e baixar a mortalidade e morbilidade infantil”, o presidente da APMGF lembrou, contudo, que a vacinação “é eficaz sempre e ao longo da vida”.
Considera fundamental “continuar a passar a mensagem de tranquilidade, confiança e importância das vacinas”, que tem sido uma das prioridades nos cuidados de saúde primários.
“Essa foi sempre uma das áreas prioritárias nos cuidados de saúde primários. Sempre tivemos essa preocupação de manter ao máximo a vacinação e as vacinas do PNV, tal e qual como estavam prescritas. Foi sempre uma indicação que demos: ‘Se tiver vacina para fazer, por favor não atrase a vacinação’”, afirmou.
O especialista reconhece que com a pandemia houve algum receio da população em dirigir-se às unidades de saúde e, no início, alguma quebra na vacinação, mas diz que se conseguiu recuperar ainda em 2020 e que a informação que tem é a de que em 2021 “as coisas estão a correr como previsto”.
“É uma das áreas prioritárias na retoma da atividade dos cuidados primários e, portanto, é uma das áreas a que damos toda a nossa atenção e que, obviamente, vamos continuar a manter, independentemente da evolução da pandemia, porque não podemos descurar as outras doenças e não podemos descurar a vacinação”, afirmou.
Quanto às vacinas da gripe, considera-as essenciais “sobretudo nos grupos de risco”, frisando que na maioria dos restantes casos se trata de uma doença ligeira e autolimitada, que todos sabem identificar e até aplicar as medidas de proteção que entraram na rotina por causa da pandemia e que são válidas para todas as doenças contagiosas: uso de máscara, distanciamento, etiqueta respiratória e evitar contactos com outras pessoas quando se tem sintomas.
“Sobretudo nos grupos de risco, nos idosos e nos imunodeprimidos. Nesses merece muito a pena insistir nesta vacinação, porque aí não estamos a falar de doenças tão ligeiras, podemos ter complicações graves, internamentos, mesmo a morte”, disse.
Nuno Jacinto lembra que, mesmo nas vacinas contra a covid-19, com todas as incertezas relativamente aos efeitos secundários, “a vacinação suplanta em muito os riscos existentes”.
“Efetivamente, estas vacinas foram desenvolvidas num tempo recorde, um tempo muito mais breve do que o habitual nestas questões. Mas o que é um facto é que a evidência e os dados científicos apontam para que tenham enormes benefícios”, disse o responsável, acrescentando: “E nós já temos visto isso, com a diminuição, na população vacinada, dos internamentos, das doenças graves e da mortalidade”.