Vacinação em idosos: “O risco de terem uma doença grave que leve a internamento é excecional”
"Vacinas para a difteria e o tétano devem ser administradas de 10 em 10 anos, mas se formos a analisar são muitos poucos os idosos que apresentam estas vacinas atualizadas", alerta o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.
27 Agosto, 2021
Em entrevista ao SaúdeNotícias, o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), Manuel Carrageta, defendeu a necessidade de vacinar pessoas acima dos 60 anos. Uma das preocupações do especialista prende-se com o facto de algumas pessoas já se encontrarem desprotegidas, em período pré-pandemia, devido ao facto de terem a sua vacinação desatualizada, situação que se agudizado nos últimos meses.
Qual é a faixa etária que suscita mais preocupações relativamente às infeções?
O grupo etário que está mais sujeito a infeções complexas é o grupo da idade mais avançada, nomeadamente das pessoas acima dos 65 anos. Isto deve-se à existência de um fenómeno denominado por imuno remanescência, que consiste no enfraquecimento do sistema imunitário no combate às infeções. Desata forma, as infeções que estas pessoas apresentam podem, facilmente, desenvolver para quadros clínicos mais complicados.
Cerca de 90% das pessoas que morreram de covid-19 ou de gripe em Portugal, até ao momento, são pessoas com mais de 65 anos. Mas para ambas as situações temos observado que as vacinas são realmente o recurso médico que tem obtido melhores resultados.
Os dados mostram-nos que existem várias doenças como o sarampo, a papeira, a difteria ou a rubéola, que praticamente desapareceram desde que foram instituídas as vacinas para essas doenças. A vacinação funciona em mais de 90% dos casos, por isso pode-se facilmente afirmar que um dos marcos mais importantes na História da Medicina foi, de facto, a descoberta das vacinas.
Ainda assim, porquê que este grupo etário continua a ser o mais desprotegido neste sentido?
Os idosos continuam a ser a porção da população menos vacinada e cujo sistema imunitário tem mais dificuldade em dar resposta à vacinação, exatamente devido ao fenómeno de imuno remanescência, que não permite que o sistema imunitário responda de uma maneira tão eficaz à vacinação. É por isso que a Medicina está hoje a trabalhar em vacinas adaptadas às pessoas mais velhas, de modo que se tornem ainda mais eficientes para este grupo etário, especificamente.
Existem ainda outras vacinas que são altamente recomendáveis às pessoas mais idosas, sendo um desses exemplos a vacina da gripe. Todas as pessoas com mais de 60-65 anos devem ser vacinadas até ao início da primavera de cada ano, devendo optar por uma vacina quadrivalente, o permitirá ao organismo ser capaz de despoletar uma resposta imunitária mais forte contra o agente patogénico.
Após serem vacinadas, o risco destas pessoas mais velhas terem uma doença grave, que leve a um internamento hospitalar, é excecional. Em vários milhões de idosos, apenas uns escassos milhares foram atingidos por estes vírus, quando vacinados adequadamente.
Ainda assim, as vacinas mais comuns como a da gripe têm uma boa cobertura vacinal?
Podemos afirmar que sim, até porque existe a capacidade de as pessoas se vacinarem nas farmácias, devido à boa rede existente nas estruturas privadas, como as Farmácias Portuguesas.
Este ano não houve, praticamente, registos de casos de gripe a nível nacional e isso deveu-se essencialmente a dois fatores. Primeiramente não houve, nos últimos meses, um regime presencial fixo nas escolas e, sendo as crianças e jovens os principais transmissores do vírus da gripe, esta transferência do vírus na comunidade foi atenuado. Posteriormente, a utilização de máscaras bem como a constante desinfeção das mãos foram medidas que impediram ainda mais o contágio do vírus da gripe. Logo, a junção destes dois fatores impediu a existência do fenómeno habitual da gripe no período do outono-inverno.
Que melhorias considera que deveriam ser feitas para melhorar este panorama de um modo geral?
Tendo em conta o risco de complicações de saúde, a vacinação não pode ser esquecida. Vacinas para a difteria e o tétano devem ser administradas de 10 em 10 anos, mas e formos a analisar são muitos poucos os idosos que apresentam estas vacinas atualizadas. Acresce ainda o facto de já estarmos em pandemia há ano e meio, o que faz com que algumas pessoas estejam muito desprotegidas neste momento.
As vacinas deverão ser administradas essencialmente a idosos, porque estes quando têm infeções virais ou bacterianas, o seu organismo reage de forma menos eficiente por isso estão sujeitos a mais complicações. Mas enquanto a vacinação infantil está bem delineada, a o plano de vacinação das pessoas mais idosas ainda precisa de alguma estruturação, bem como esta necessita de ser instituída de uma forma mais coordenada.