Vacina da pneumonia. Vamos vacinar gratuitamente os idosos?

Fatores demográficos e socioeconómicos bem conhecidos explicam o elevado número de portugueses que todos os anos adoecem, são internados e […]

Fatores demográficos e socioeconómicos bem conhecidos explicam o elevado número de portugueses que todos os anos adoecem, são internados e falecem com pneumonias.

Apesar de possuirmos dados epidemiológicos relevantes acerca desta doença, não sabemos com exatidão o número de casos que ocorrem anualmente. Tal é devido ao facto de ela não ser de declaração obrigatória, de muitos casos serem tratados em ambulatório e de não serem públicos os dados referentes à hospitalização privada. Porém, vários estudos permitem estimar que esse número ultrapasse os cem mil.

Mas a importância sanitária e o impacto económico das pneumonias podem ser verificados através de números mais precisos. Por exemplo, de acordo com os últimos relatórios do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias, o número de internamentos anuais – apenas no SNS – tem-se situado acima dos 40.000 o que traduz uma média próxima dos 110 internamentos diários. Igualmente elevado e com tendência crescente – o número duplicou nos últimos dez anos – estão os episódios de internamento em UCI, que anualmente têm ultrapassado os 3.000.

Igualmente reveladora da gravidade desta doença é a sua mortalidade. Com uma mortalidade intra-hospitalar de 20% Portugal é dos países europeus onde mais se morre de pneumonia. Com uma taxa de 57 óbitos por 100.000 habitantes – o dobro da média dos países da UE – o nosso país juntamente com a Eslováquia e o Reino Unido tem liderado esta tabela. Os 5764 óbitos reportados pelo INE em 2018 – 43% de todos os óbitos devidos a doenças respiratórias – indicam que no nosso país morrem diariamente 15 pessoas por pneumonia – uma pessoa em cada 92 minutos -, onze vezes mais do que as que acontecem em consequência de acidentes rodoviários.

Quanto à etiologia esta infeção pode ser provocada por um numeroso grupo de microrganismos; porém, em todas as séries predomina largamente o Streptococcus pneumoniae ou pneumococo. Este facto é determinante nas opções vacinais, de tal forma que a vacina antipneumocócica (VAP) é a “vacina da pneumonia”. O aumento dos anticorpos específicos induzidos pela vacinação permitem não só prevenir a infeção pneumocócica, como evitar as suas formas graves e/ou disseminadas – doença invasiva pneumocócica (DIP).

A vacina tem a sua principal indicação nos chamados grupos de risco acrescido para DIP. Quem são essas pessoas? Definem-se com precisão quatro grupos.

As crianças, que são as primeiras destinatárias da VAP, têm a sua situação vacinal resolvida com a inclusão da vacina no Programa Nacional de Vacinação, com a administração de três doses no primeiro ano de vida.

O segundo grupo integra doentes que, apesar de imunocompetentes, apresentam condições clínicas particulares em que uma pneumonia, para além da sua perigosidade intrínseca, poderá levar à descompensação da respetiva doença-base: por exemplo, doença cardíaca, hepática, renal ou respiratória crónica, diabetes mellitus, ou aqueles que se encontram em fase de pré-transplantação de órgão.

O terceiro grupo integra todos os doentes imunocomprometidos, desde pessoas sem baço, até aquelas que sofrem de doença neoplásica ativa.

O quarto grupo é o das pessoas com mais de 65 anos. A perda natural da imunidade torna estas pessoas particularmente vulneráveis às pneumonias, facto que pode ser verificado no paralelismo entre o aumento da idade e o da mortalidade por pneumonia: a taxa bruta de mortalidade é de 200/100.000 para o grupo etário com idade superior a 75 anos e de 1.170/1000.000 para quem tem mais de 85 anos!

A VAP é uma excelente vacina como o têm demonstrado os respetivos estudos de eficácia. A sua composição está de acordo com o serotipo dos pneumococos que predominantemente circulam entre nós. Porém, está associada a um problema. O seu custo, que sendo de 59.10 € a torna cara. Mesmo contando com a comparticipação de 21,87 € relativos ao escalão em que está inserida (C), o doente tem pagar 37,23 € o que, obviamente, pode ser um fator dissuasor à sua utilização.

Com exceção das crianças e de oito grupos de doentes contemplados na norma 11/2015 da DGS, nos quais a vacina é gratuita, o preço a pagar é significativo, o que talvez explique os baixos níveis de cobertura vacinal na população com mais de 65 anos, que não chega a 40%. Tal situação aconselha a mudanças.

Nesse sentido a Fundação Portuguesa do Pulmão tem pugnado por duas medidas que julgamos fundamentais: a primeira é a subida para o escalão B da comparticipação (69%); a segunda é a da gratuitidade da VAP para as pessoas com mais de 65 anos, seguindo a política vacinal aplicada à gripe e que tão bons resultados tem dado.

Vacinar gratuitamente todas as pessoas com mais de 65 anos custaria ao erário público cerca de 80 milhões de euros, curiosamente o valor que o SNS gasta todos os anos a tratar pneumonias. E tal seria um bom investimento na saúde dos cidadãos. Aliás, há estudos que apontam que o gasto em vacinas é sempre um bom investimento: por cada euro investido haverá um retorno que pode chegar aos doze. Vamos mudar?

Jaime Pina
Médico
Fundação Portuguesa do Pulmão

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