Rotavírus. “A vacinação deve ser adotada sempre que possível”
Segundo o pediatra Luís Varandas a vacinação de rotavírus é justificável tendo em conta que, “ainda que esta não seja uma causa de mortalidade, é uma causa muito significativa de morbilidade”.
22 Julho, 2021
A vacina contra o rotavírus foi inserida no mercado português em 2006 e, ainda que não pertença ao Plano Nacional de Vacinação (PNV) em Portugal, vários são os especialistas que aconselham a sua toma em idade infantil. Quer seja recomendada ou obrigatória, esta vacina é administrada em 15 países europeus.
Qual o atual estado do rotavírus em Portugal?
O rotavírus mantém-se a circular em Portugal, não tendo a vacinação impedido a sua propagação no nosso país. Várias são as razões para isso: por um lado esta vacina não faz parte do PNV – o que significa que nem toda a gente está vacinada – e, ainda que constasse no PNV, o que sabemos é que as vacinas não dão uma imunidade generalizada, protegendo-nos apenas da progressão para a doença grave e, consequentemente, evitando a necessidade de internamentos.
A faixa etária pediátrica é a que mais sofre com este vírus?
Eu diria que sim, mas é curioso que segundo dados de alguns países, nomeadamente do Reino Unido, é possível observar que quando esta vacina foi inserida nos PNV deste país, rapidamente houve uma diminuição nos casos de rotavírus e gastrites em pessoas mais velhas. De facto, as crianças são a faixa etária mais infetada por rotavírus, mas são eles também quem mais transmite o vírus às pessoas mais idosas, como é o caso dos seus avós.
Quando um país tem uma cobertura vacinal tão baixa como tinham os nosso colegas ingleses – rondava os 50% – e ainda que apenas com esse número de vacinados já se notava uma grande diminuição na incidência de gastroenterites por rotavírus, quer nas crianças quer nos mais velhos, percebe-se que a vacinação é um comportamento que se deve adotar sempre que possível.
Como é que se procedo o contágio do rotavírus?
Este vírus apresenta uma transmissão fecal-oral, por exemplo através de superfícies que podem estar contaminadas ou através dos brinquedos que os meninos levam à boca, fazendo com que estes acabem por desenvolver a doença. Tendo em conta que este é um vírus que sobrevive bastante tempo no ambiente, as infeções dão-se com relativa facilidade.
Na era pré-vacina, observou-se facilmente que, quer os países fossem eles industrializados ou não, estes apresentavam níveis elevadíssimos de infeção por rotavírus, o que demonstra visivelmente que estas não sucediam devido às más condições de higiene, mas ao invés pela própria facilidade de contágio.
Sendo o rotavírus um vírus que causa uma patologia benigna, considera que este pode ser subvalorizado por alguns profissionais de saúde?
De facto, esta é uma vacina para a qual não existe um consenso, uma vez que os casos de morte por rotavírus no mundo ocidental são raríssimos. Contrariamente aos países em desenvolvimento, onde a diarreia é uma das grandes causas de morte em crianças com menos de cinco anos, nos países ocidentais essa realidade é uma raridade e talvez por isso alguns médicos não deem tanta importância aos episódios de diarreia por rotavírus.
Mas ainda que não sendo uma causa de mortalidade, é uma causa muito significativa de morbilidade. As gastroenterites, com todo o sofrimento inerente, os custos diretos e indiretos, as deslocações às urgências, causam complicações que na minha opinião são fatores mais do que suficientes para a toma desta vacina.
Ainda que não sendo de vacinação obrigatória, existem muitos pais a optar por vacinar os seus filhos contra o rotavírus?
Sim sim, sem dúvida. A vacina continua a ser usada no mercado privado e eu posso arriscar, ainda que sem dados sobre isso, que pelo menos metade das crianças são vacinadas com esta vacina. E como vimos pelos estudos dos ingleses, só isso é suficiente para reduzir a incidência deste vírus e as pessoas que não estão vacinadas acabam por estar a beneficiar das que estão vacinadas.
Também facilita o facto de não ser muito cara e ser de toma oral (através de gotas). Não tens reações adversas frequentes.
Verificou alguma variação nos níveis de contágio do vírus durante o período pandémico?
Ainda não temos dados oficias que o possam justificar, mas que se preveja que tenha existido uma significativa diminuição do contágio, sendo este acontecimento similar para várias infeções. Por exemplo, o mês de julho está a ser bastante atípico, com muito mais ocorrências de bronquiolites do que tivemos no inverno, e isto é algo perfeitamente anormal. Tal como os vírus respiratórios, também a transmissão de rotavírus foi muito menos frequente no inverno do que é costume nesta altura do ano.
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