Rui Nogueira. “Temos de nos preparar para uma época gripal forte”

O reduzido número de casos de gripe nas últimas duas épocas gripais faz antever uma subida significativa dos casos nos próximos meses, alerta, em entrevista, o ex-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar. Por isso, Rui Nogueira sublinha a importância de vacinar o maior número possível de pessoas até novembro, de modo a garantir proteção contra o inverno e as complicações associadas à gripe.

28 Setembro, 2022

Quão frequente é a infeção pelo vírus influenza na população em geral? E na população mais vulnerável (pessoas com 65 ou mais anos de idade)?

É muito frequente e, em alguns anos, é mesmo muitíssimo frequente. A infeção por influenza é sempre uma grande preocupação. No entanto, temos disponível uma vacina contra a gripe, que evita a doença e, principalmente, as complicações associadas. Aconselhamos, por isso, a vacinação maciça contra a gripe.

Depois da diminuição dos diagnósticos de gripe nas duas últimas épocas gripais, podemos antever que nesta época, dada a diminuição das medidas de distanciamento social, iremos assistir a um aumento dos casos de gripe?

É uma pergunta a que não conseguimos dar resposta porque não sabemos como vai ser o inverno e a campanha de vacinação. Se tivermos uma elevada taxa de vacinação, um inverno tardio e moderado, teremos um cenário bom – nunca existem muitos casos de gripe nestas circunstâncias. Se, pelo contrário, o inverno for precoce (início de dezembro), se tivermos um inverno rigoroso e prolongado, e se no início de dezembro não tivermos uma taxa elevada de vacinação, então poderemos enfrentar uma situação mais difícil.

O facto de termos tido um número reduzido de casos na última época gripal pode apontar para um aumento significativo de casos neste inverno?

Sim, pode acontecer. Aquilo a que temos assistido é a um agravamento das epidemias de gripe a cada quatro anos a cinco anos, sensivelmente. E tendo em conta que os dois últimos anos foram ‘anos bons’ de gripe, temos de nos preparar para um inverno com um número significativo de casos, para uma época gripal forte. Repare que a última época gripal em que tivemos muitos casos de gripe foi a de 2016/2017.

Relativamente à mortalidade, o facto de terem falecido nos últimos dois anos muitas pessoas de risco (em janeiro de 2021, Portugal registava uma mortalidade quase três vezes superior ao normal) pode levar-nos a crer que este ano isso não será tão grave. Por outro lado, também é verdade que temos uma população idosa tão vasta que o risco se mantém.

Quais as possíveis consequências de um quadro de gripe, particularmente na população idosa?

Pode originar problemas a nível respiratório e, por exemplo, insuficiência cardíaca. Os doentes hipertensos, diabéticos, com bronquite crónica, com enfisema pulmonar são os doentes de maior risco. Sendo idosos, o risco de descompensação destas doenças aumenta.

Sabe-se que as infeções pelo vírus influenza aumentam de forma significativa o risco de enfarte agudo do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais. Quão importante é prevenir as complicações cardiometabólicas causadas pela gripe?

Aumenta essencialmente o risco de insuficiência respiratória e de descompensação da insuficiência cardíaca. [Sabe-se que um quadro gripal aumenta a probabilidade de enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral. Este risco é maior nos primeiros três dias de infeção e é seis vezes maior num doente não vacinado].

Na última época gripal, as taxas de vacinação da gripe registaram números impressionantes que nos permitiram não só cumprir, mas também ultrapassar as metas estabelecidas pela OMS. Na sua opinião, é expectável que nesta época gripal 22/23 consigamos aumentar ainda mais as taxas de vacinação?

Espera-se que consigamos aumentar as taxas de vacinação, principalmente em dois grandes grupos: nos idosos e nos doentes crónicos – que são os grupos que têm maior probabilidade de complicações. No entanto, julgo que o grande problema é olharmos para taxas elevadas de vacinação no final da campanha. Se conseguimos uma taxa de vacinação de 80% em março, ou mesmo em janeiro, é bom mas é tardio. A grande campanha da vacinação tem de ser feita em outubro e novembro, é nestes meses que temos de vacinar o maior número possível de pessoas, de maneira a termos a população vacinada se o inverno vier, por exemplo, a meio de novembro. O que tem acontecido é que temos tido taxas de vacinação precárias no final de novembro.

Qual deverá ser o papel do médico, nomeadamente dos especialistas em MGF, no aconselhamento da vacinação da gripe?

O papel é fulcral. Por um lado, os médicos de família têm um papel de sensibilizar as pessoas e lembrar a importância da vacinação. Por outro, a oportunidade de vacinar quando os utentes vão à consulta, os médicos de família têm de ser oportunistas. Muitos têm o cuidado de marcar consultas dos utentes dos grupos de risco para outubro e novembro, nomeadamente hipertensos, diabéticos, pessoas com insuficiência cardíaca.

Foi noticiado que nesta época gripal seria disponibilizada uma nova vacina da gripe, de dose elevada, para residentes em lares. De que forma é que esta medida poderá impactar ou reforçar o nível de proteção nesta população?

É uma novidade, espera-se que tenha um grande efeito na proteção desta população, uma vez que, nos lares, a probabilidade de propagação dos vírus é ainda maior. Esta vacina de dose elevada vai permitir-nos defender melhor as pessoas, diminuindo o risco de complicações associadas à gripe. É também prudente que seja administrada uma vacina mais duradoura, que aumente a imunidade no tempo. Fazendo a vacinação numa fase mais precoce, corremos o risco de a imunidade se perder no final do inverno.

EV

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