Meningite. “O serogrupo B corresponde a 85% dos casos de doença invasiva meningocócica nos adolescentes”

A vacina meningocócica B faz parte do Programa Nacional de Vacinação (PNV) para todas as crianças nascidas a partir de dia 1 de Janeiro de 2019, uma medida muito positiva para a pediatra Filipa Cunha.

21 Outubro, 2021

Considera que este ano escolar pode ser atípico no que se refere à propagação de doenças infeciosas entre os adolescentes, como a meningite B?

Se tivéssemos falado em junho, altura em que ainda era obrigatório o uso de máscaras, a situação era diferente, e provavelmente poderíamos dizer que o contágio das doenças infecciosas tinha reduzido. Agora, e tendo até em conta a própria e natural socialização entre os jovens, voltámos à situação na qual estávamos há dois anos, ou seja, a transmissão de qualquer doença infecciosa volta a ser fácil que ocorra.

No caso do meningococos, sendo esta é uma transmissão de pessoa a pessoa e através de secreções respiratórias, é muito fácil transmitirmo-lo uns ao outros através das próprias gotículas no ar quando falamos. E embora eu possa não ter sintomas, posso ser transmissora e esta é outra situação que nos deixa a nós [pediatras] um pouco apreensivos.

Qual o número médio de casos anuais de meningite B, em Portugal?

No período entre 2007 e 2016 ocorreram 507 casos confirmados de doença invasiva meningocócica (DIM) por grupo B, dos quais 145 (28,6%) em menores de 12 meses de idade. No entanto, houve 39 casos entre os 10 e os 19 anos, um número que embora seja significativamente mais baixo, inclui o segundo pico da doença nas crianças e dado a gravidade da doença e a sua morbilidade e mortalidade elevadas, não podemos menosprezar. O serogrupo B corresponde a 85% dos casos de DIM nos adolescentes.

A doença é mais frequente na infância, sendo que voltamos a ter um pico, ainda que não tão elevado, na adolescência. Costumamos ter cerca de 50-60 casos por ano, mas com elevado nível de mortalidade. E mesmo não sendo fatal, as sequelas deixadas são muito graves.

meningite b

Acha que a pandemia pode ter-nos deixado, de alguma forma, mais vulneráveis ao contágio/infeção por estas doenças?

Em termos de doenças mais vulgares como é o caso de um vírus da gripe, acho que sim, pois se não tivemos imunidade no início do ano, não a vamos ter agora. Os miúdos vão ter mais viroses agora sim, mas foi porque não as tiveram no início do ano e isso é algo normal.

Relativamente à imunidade a doenças graves, essa vai ser igual. Quem vai ter a doença meningocócica, iria tê-la de qualquer das formas, quer tivesse existido pandemia de covid-19 ou não. Eu acredito que no ano passado tenhamos tido menos casos, porque estivemos fechados em casa e por isso não houve transmissão. Neste ano acredito que tenhamos os números que tínhamos em pré-pandemia.

Quando se ouve que foi detetado um caso de meningococos e que o infantário onde essa criança estava foi fechado, e que todas as pessoas que estiveram em contacto tiveram que tomar antibiótico, este é um procedimento perfeitamente normal. Até nós, profissionais de saúde, quando temos o diagnóstico de uma meningite meningocócica no hospital, temos de tomar um antibiótico profilático. Os casos que temos não são muitos, mas quando existem são muito graves.

Já dispomos de valores atualizados relativamente às infeções por meningite B desde o início da pandemia?

Não, ainda não saíram dados oficiais do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Os resultados andam sempre atrasados dois anos, por isso, até agora, o que sabemos advém da nossa experiência no hospital e do que vamos falando com outros colegas.

Existe alguma altura do ano em que se registe um aumento do número de casos?

Pensava-se que sim, mas atualmente já não. Sendo o meningococos uma bactéria para a qual nós humanos somos o reservatório, acabamos por não ter esses picos. Enquanto há outras bactérias e vírus que, em período antes da covid, tivessem incidências específicas em alturas específicas do ano, este não é um deles.

meningite b

Como prevenir o contágio desta doença?

A estratégia passa pela prevenção, ou seja, em doenças para as quais existe vacina – e vimos ultimamente isso até através da covid-19 – esta deve ser tomada. Mesmo com as reticências de que tal pudesse não acontecer, vimos que entrou para o PNV a vacina para o meningococos B administrada a bebés nascidos a partir de 1 de janeiro de 2019.

É verdade que ainda continuam muitas crianças a descoberto e que o ideal era termos todas as crianças vacinadas, mas para já ainda não existem meios financeiros para estar a vacinar os adolescentes também, pois esta é uma vacina cara.

Reforço que a decisão das crianças serem vacinadas é dos pais, mas estes devem estar sobretudo informados para decidir em conformidade. Esta é uma doença grave, com mortalidade e morbilidade elevadas, mas é prevenível.

DT

 

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