Gripe. “É essencial aumentarmos a taxa de cobertura vacinal e provavelmente voltarmos a usar máscara”
"A meu ver, é essencial aumentarmos a taxa de cobertura vacinal – situação que já foi feita pela aquisição de mais vacinas – e, provavelmente, voltarmos a usar máscaras de proteção individual, sobretudo para evitar a transmissão desses vírus respiratórios aos outros", defende o especialista.
26 Outubro, 2021
A época de vacinação antigripal 2021/22 iniciou-se no dia 1 de outubro e, segundo dados do Serviço Nacional de Saúde (SNS), existem 2,24 milhões de vacinas para serem distribuídas a grupos prioritários, abrangidos pela vacinação gratuita. O pneumologista Filipe Froes defende que este ano é necessário aumentar a taxa de cobertura vacinal, bem com a utilização de máscara nas alturas de pico dos contágios.
Qual considera ser a importância do Vacinómetro?
O Vacinómetro é uma ferramenta em tempo real da maior utilidade, que serve para monitorizar a taxa de cobertura vacinal contra a gripe nos grupos prioritários: indivíduos com mais de 65 anos, pessoas com doenças crónicas, profissionais de saúde e grávidas. O facto de ser em tempo real permite que a resposta possa ser adaptada, de acordo com os dados que vamos tendo no terreno.
O ano passado verificou-se uma diminuição quase total da imunidade o vírus Influenza, praticamente em todo o mundo. Isso significa que as medidas de intervenção não farmacológica, utilizadas na pandemia covid-19, tiveram um profundo impacto no impedimento da circulação de outros vírus respiratórios – não só do vírus influenza, mas também no vírus sincicial respiratório – só que este ano estamos a viver uma outra realidade.
A meu ver, é essencial aumentarmos a taxa de cobertura vacinal – situação que já foi feita pela aquisição de mais vacinas –, mantermos uma maior taxa de cobertura vacinal e, provavelmente, no decurso de sintomas respiratórios, voltarmos a usar máscaras de proteção individual, sobretudo para evitar a transmissão desses vírus respiratórios aos outros.
Acha que deviam ser incluídos mais grupos prioritários nesta primeira fase de vacinação?
Concordo com a metodologia implementada e com a distribuição dos grupos de risco pelo calendário. Neste momento o mais importante será vacinar o mais depressa possível as pessoas incluídas nos grupos de risco.
Idealmente, estas pessoas também devem evitar nessa altura ajuntamentos populacionais. No fundo, é aprender com a pandemia e implementar alguns hábitos a que nós já assistíamos, nomeadamente em culturas do extremo Oriente.
No ano passado houve alguma mudança de estratégia ao nível da vacinação da gripe?
Em plena pandemia covid-19 sabemos que a gripe também pode predispor para a infeção por SARS-CoV-2 e, eventualmente, para uma infeção SARS-CoV-2 mais grave.
Este é um conceito que foi adotado no ano passado e foi designado por “cavalo de Troia”, isto é, o vírus da gripe funcionar como um cavalo de Troia na medida em que predispõe e é facilitador da infeção pelo SARS-CoV-2. Deu-se também a criação de um segundo conceito denominado por “tempestade perfeita”, na medida em que a infeção gripal, além de poder predispor para a infeção pelo SARS-CoV-2, as pessoas infetadas pelo SARS-CoV-2 poderão ter uma infeção mais grave.
Considera que, devido à consciencialização social resultante da pandemia, como a prova de fogo pela qual passou o SNS, estaremos mais bem preparados para a situação gripal neste 2021/22?
Uma das grandes lições que tirámos desta pandemia é a importância da vacinação e da prevenção. Portanto, espero que a vacinação, depois desta pandemia, seja vista ainda com melhores olhos e motivo de maior adesão, no sentido de maior prevenção das pessoas contra microrganismos e infeções que sejam potencialmente evitáveis pela vacinação.
Em relação à vacinação da gripe, é evidente que o SNS está sob uma grande sobrecarga, porque tem que assegurar a atividade normal e habitual desta fase do outono/inverno; tem que lidar ainda com uma pandemia que ainda não terminou, havendo ainda casos a decorrer; e, ao mesmo tempo, tem um acréscimo de trabalho fruto da recuperação dos doentes não-covid que não foram vistos durante este período e que urgem ser recuperados.
É possível que a terceira toma da vacina contra o SARS-CoV-2 possa ter alguma influência relativamente à gripe?
Em relação à gripe, não tem influência nenhuma, porque o vírus do SARS-CoV-2 só é eficaz na infeção pelo mesmo, mas há uma relação entre as duas doenças e como há uma possibilidade de a gripe potenciar a outra, o facto de as pessoas fazerem as duas vacinas é do maior benefício para esses grupos populacionais.
Uma pessoa que seja vacinada com a terceira dose contra a covid-19 – e nomeadamente quem está, neste momento, a receber a terceira dose são pessoas com mais de 65 anos e pessoas imunodeprimidas, logo, os mesmos grupos de risco para terem formas graves de gripe – se tiver gripe, o risco contrair covid e o risco de ter covid agravada será muito menor.
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