Vacina da Janssen suspensa nos EUA. Empresa atrasa entregas na Europa
Autoridades de saúde estão a investigar coágulos detetados em várias mulheres depois da toma. Primeiras doses já não vão chegar a Portugal esta quarta-feira.
13 Abril, 2021
Autoridades de saúde dos Estados Unidos recomendam “uma pausa” na administração da vacina anti-covid-19 de dose única da Janssen para permitir investigar relatos de coágulos sanguíneos potencialmente associados à toma do fármaco.
O Centro para Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) e a Food and Drug Administration (entidade reguladora de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos) avançaram, numa declaração conjunta, estar a investigar coágulos sanguíneos detetados em seis mulheres nos dias a seguir a terem tomado a vacina desta farmacêutica, em combinação com contagens de plaquetas reduzidas.
As mulheres tinham entre 18 e 48 anos e desenvolveram sintomas de trombose e coágulos incomuns entre seis e 13 dias após a injeção, combinados com uma queda nos níveis de plaquetas no sangue.
Sabe-se também que uma pessoa morreu na sequência de uma trombose e outra encontra-se em estado crítico no país depois de terem recebido a vacina. Peter Marks, da Agência de Medicamentos dos Estados Unidos (FDA), comparou os casos com os coágulos sanguíneos listados como efeito secundário “muito raro” da vacina AstraZeneca contra Covid-19.
Segundo vários especialistas, os coágulos sanguíneos podem ser causados por uma resposta imune muito rara às duas vacinas.
O Comité Consultivo sobre Práticas de Imunização do CDC vai reunir-se na quarta-feira para discutir os casos e o FDA também lançou uma investigação.
“Até à conclusão do processo, recomendamos que seja feita, por prevenção, uma pausa no uso desta vacina”, defendeu a diretora-adjunta do CDC, Anne Schuchat, e o diretor do centro do FDA para Avaliação e Pesquisa Biológica, Peter Marks, em comunicado conjunto hoje divulgado.
6,8 milhões de doses já administradas nos EUA
Mais de 6,8 milhões de doses da vacina Janssen foram já administradas nos Estados Unidos.
Entretanto, a farmacêutica Johnson & Johnson, que detém a Janssen, “tomou a decisão de atrasar a distribuição” da sua vacina contra a covid-19 na Europa, após as autoridades norte-americanas terem recomendado “uma pausa” no seu uso nos EUA.
A farmacêutica norte-americana disse que está a aguardar resultados de estudos feitos pelas autoridades de regulação e controlo, antes de proceder à distribuição das suas vacinas de dose única na Europa, admitindo as suspeitas sobre os casos de cóagulos sanguíneos.
“Estamos a analisar esses casos com as autoridades de saúde europeias. Tomámos a decisão de adiar proativamente a entrega da nossa vacina na Europa”, informou a Johnson & Johnson num comunicado, sem referir novas datas para a distribuição.
A chegada das vacinas à Europa, incluindo Portugal, estava prevista para quarta-feira.
Em Portugal, questionada sobre o assunto, a ministra da Saúde, Marta Temido, considerou ser ainda muito cedo para comentar a recomendação das autoridades de saúde dos Estados Unidos.
As autoridades da Alemanha, que devia receber 232 mil doses desta vacina disseram que não têm ainda um plano para alterar o seu cronograma.
A Itália também está apreensiva com este atraso e Francesco Rocca, presidente da Federação Internacional da Cruz Vermelha, disse que está preocupado com a notícia do atraso, mas reconfortado por perceber que “o sistema de regulação está a funcionar”.
Já hoje, a Agência Europeia do Medicamento informou que ainda está “a investigar” os casos de tromboembolismo detetados após a administração da vacina da Janssen e alertou que, “para já, não se sabe se há relação causa-efeito”.
O comité de segurança da Agência Europeia do Medicamento (EMA) está a rever a segurança da vacina investigando estes casos e a necessidade de uma eventual medida de regulação só será decidida quando houver conclusões científicas, explicou uma porta-voz da agência.
A EMA recordou ainda que os casos que estão em investigação foram detetados nos Estados Unidos, onde esta vacina foi utilizada com uma autorização de uso de emergência.
Recorde-se que a Comissão Europeia acordou a compra de 200 milhões de doses este ano, com uma opção mais 200 milhões de doses, tendo a farmacêutica Janssen, do grupo Johnson & Johnson, começado a fazer as entregas na segunda-feira.
SO/LUSA