Covid-19. Cerca de 70 países só vão conseguir vacinar uma em cada dez pessoas

Países de baixo e médio rendimento arriscam "ficar para trás" no acesso às vacinas, a menos que "sejam tomadas medidas urgentes" pelos governos e pela indústria farmacêutica.

11 Dezembro, 2020

Cerca de 70 países em desenvolvimento, onde se incluem seis lusófonos, só terão vacinas suficientes para imunizar uma em cada dez pessoas contra a covid-19 em 2021, alertou uma coligação de organizações internacionais.

“Enquanto os países mais ricos, que representam 14% da população global, já garantiram 53% de todas as vacinas mais promissoras, 67 países em desenvolvimento – alguns dos quais estão entre os mais pobres do mundo – só terão vacinas suficientes para imunizar uma em cada dez pessoas em 2021″, estima uma análise divulgada hoje pela Peoples Vaccine Alliance.

A aliança, que integra as organizações Amnistia Internacional, a Frontline AIDS, a Global Justice Now e Oxfam, analisou os negócios já feitos entre os países e as oito principais vacinas candidatas a certificação.

As conclusões apontam que, enquanto países ricos como o Canadá conseguiram já garantir vacinas para imunizar cinco vezes a sua população, 67 países de baixo e médio rendimento arriscam “ficar para trás” no acesso às vacinas, a menos que “sejam tomadas medidas urgentes” pelos governos e pela indústria farmacêutica para garantir a produção de doses suficientes para todos.

A maioria destes países localizam-se no continente africano e na Ásia e entre eles contam-se os lusófonos Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Cinco países – Quénia, Mianmar, Nigéria, Paquistão e Ucrânia – registam, no seu conjunto, 1.5 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus.

“A menos que algo mude drasticamente, milhares de milhões de pessoas em todo o mundo não receberão uma vacina segura e eficaz para a COVID-19 durante os próximos anos”, adiantou Anna Marriott, gestora de política de saúde da Oxfam.

Por seu lado, Heidi Chow, da Global Justice Now, sublinhou a necessidade da partilha do conhecimento científico e da propriedade intelectual por detrás das vacinas, “para que possam ser produzidas doses seguras e eficazes suficientes.”

“Os governos devem também assegurar que a indústria farmacêutica coloca a vida das pessoas à frente dos lucros”, acrescentou.

 

Amnistia Internacional critica “açambarcamento de vacinas” dos países ricos

 

Steve Cockburn, da Amnistia Internacional, criticou o “açambarcamento de vacinas” pelos países ricos, considerando que “mina os esforços globais para assegurar que todos, em qualquer lugar, possam ser protegidos da covid-19”.

“Ao comprar a grande maioria da oferta mundial de vacinas, os países ricos violam as suas obrigações em matéria de direitos humanos”, disse.

As vacinas desenvolvidas pela AstraZeneca/Oxford, Moderna e Pfizer/BioNTech receberam mais de 5 mil milhões de dólares de financiamento público, o que, segundo estas organizações, lhes atribuiu a responsabilidade de agir no interesse público global.

“Os países ricos têm doses suficientes para vacinar toda a gente quase três vezes, enquanto que os países pobres não têm o suficiente para chegar sequer aos trabalhadores da saúde e às pessoas de risco”, alertou Mohga Kamal Yanni, da People’s Vaccine Alliance.

“O sistema atual, onde as empresas farmacêuticas utilizam o financiamento governamental para a investigação, mantêm direitos exclusivos e mantêm a sua tecnologia em segredo para aumentar os lucros, pode custar muitas vidas”, afirmou.

Lois Chingandu, da Frontline AIDS, assinalou que esta pandemia é um problema global que requer uma solução global.

“A economia global continuará a sofrer enquanto grande parte do mundo não tiver acesso a uma vacina”, disse.

Os cálculos da análise, têm por base o facto de que 30 países de baixo rendimento e 37 de rendimento médio apenas terão acesso a qualquer vacina através do compromisso assinado entre países, o COVAX.

Até agora, o COVAX conseguiu assegurar 700 milhões de doses dos principais candidatos à vacina, a serem distribuídas entre os 92 países que aderiram e que, no seu conjunto, têm 3,6 mil milhões de habitantes.

eV/LUSA

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