Meningite. Vacinação é a medida mais eficaz de prevenção
Assinala-se a 24 de abril o Dia Mundial da Meningite. Vacinar continua a ser a melhor forma de prevenir esta doença infeciosa, que afeta sobretudo crianças e adolescentes.
A importância da prevenção e da vacinação contra esta doença infeciosa – causada pela bactéria Neisseria meningitidis e caraterizada pela inflamação das meninges (membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal) – é o grande objetivo do Dia Mundial da Meningite, que se assinala amanhã, 24 de abril.
A bactéria Neisseria meningitidis é classificada em diferentes serogrupos, consoante as características apresentadas. Atualmente estão identificados 12 serogrupos, sendo que seis deles são os que causam a doença.
Na plataforma Por Uma Vida Inteira Pela Frente (www.porumavidainteirapelafrente.pt) – desenvolvida pela GSK com o intuito de alertar para a gravidade da meningite e de reforçar a importância da imunização contra esta e outras doenças infeciosas – é possível consultar os mapas das estirpes invasivas por serogrupo em Portugal e no mundo (https://www.porumavidainteirapelafrente.pt/o-que-e/men-abcwyx/). De acordo com este site, em 2018 o serogrupo B foi responsável por cerca de 70%, dos casos de meningite em Portugal. A vacina contra este serogrupo passou a integrar o Programa Nacional de Vacinação (PNV) em outubro de 2020.
Existem vários fatores que podem potencializar o risco de contrair meningite, como a idade, condição clínica, geografia e ambiente. Quanto à idade, todas as faixas etárias são consideradas grupos de risco, mas é entre as crianças e os adolescentes que se verificam mais surtos da doença. No que respeita às comorbilidades, pessoas com asplenia (inexistência de baço), deficiência no sistema imunitário e com VIH apresentam maior risco.
Em termos geográficos e de ambiente, sugere-se que quem vai viajar marque previamente uma consulta do viajante e adote algumas medidas preventivas. A nível do ambiente, sítios com grandes ajuntamentos de pessoas, como campus universitários e militares, aumentam o risco de surtos meningocócicos.
A meningite transmite-se através do contacto direto com gotículas e secreções nasais expelidas pela tosse e espirros. Os beijos e a proximidade física também são meios de transmissão.
O principal grupo etário responsável pela transmissão da bactéria são os adolescentes, sendo que um e cada quatro adolescentes é portador da bactéria – está alojada na parte de trás do nariz e/ou garganta e não apresenta sintomas da doença. Além disso, os adolescentes e jovens têm alguns comportamentos de risco que facilitam a transmissão, como a frequência de locais sobrelotados (discotecas, bares e concertos), partilham o alojamento e utensílios, alguns fumam e viajam para zonas endémicas.
Os sintomas da meningite podem variar de acordo com a idade e com o tempo de infeção. Nas primeiras oito horas pode surgir perda de apetite, irritabilidade, febre, náuseas/vómitos, dor de garganta, dor generalizada, dor nas pernas e sonolência. Entre as 9 e 15 horas de infeção, as mãos e os pés ficam frios, rigidez no pescoço, a fontanela fica saliente e o infetado fica com sensibilidade à luz. Durante as 16 e 24 horas posteriores, os sintomas são confusão e delírio, inconsciência, convulsões e choque séptico, com uma taxa de letalidade elevada.
Quanto à idade, em bebés e crianças, a sonolência, sono invulgar, perda de apetite, fontanela saliente e irritabilidade, são os sintomas mais comuns. Já nos adolescentes e jovens adultos, a dor no pescoço, de cabeça, sensibilidade à luz e dor nas articulações são os sintomas mais comuns.
Existem várias medidas que se podem adotar como método de prevenção da doença, sendo a mais eficaz a vacinação. Em Portugal, as vacinas contras os serogrupos B e C fazem parte do PNV. A imunização contra os serogrupos ACWY não está incluída no PNV, mas é recomendada a alguns grupos pela Comissão de Vacinas da Sociedade Portuguesa de Pediatria (especialmente devido ao rápido aumento de casos da estirpe W na Europa) e pode ser prescrita pelo médico.
Lavar as mãos com frequência, evitar a partilha de alimentos e bebidas, bem como de utensílios de uso pessoal; cobrir a boca e o nariz quando se tosse ou espirra (etiqueta respiratória) são outros comportamentos que podem ser adotados para prevenção da meningite.
Verifique se a sua família está protegida contra a meningite e contra outras doenças em Por Uma Vida Inteira Pela Frente, através de uma ferramenta que indica a lista de vacinas que foram administradas aos bebés, de acordo com o dia, mês e ano em que nasceram (www.porumavidainteirapelafrente.pt/proteja-sua-familia/familia-esta-protegida/).
Pneumoscópio, o mapa dinâmico da Pneumonia e Meningite em Portugal
“Pneumoscópio nasce como uma ferramenta de representação geoespacial que permite caracterizar a Pneumonia e a Meningite de forma nacional e por região”, explica o coordenador do GRESP.
Disponível a partir desde o dia 29 de março, o Pneumoscópio é uma ferramenta de representação geoespacial que permite mapear o número de internamentos por Pneumonia e mortalidade por Pneumonia ou Meningite, em Portugal Continental.
“O Pneumoscópio nasce, assim, como uma ferramenta de representação geoespacial que permite caracterizar a Pneumonia e a Meningite de forma nacional e por região. Ao acedermos a https://www.pneumoscopio.pt/, vamos poder fazer a representação geográfica do número de internamentos por Pneumonia e da mortalidade por Pneumonia e Meningite, e relacioná-los com outros indicadores, como os sociodemográficos”, diz, ao SaúdeOnline, o médico Rui Costa, Coordenador do GRESP – Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF.
“Os últimos anos têm vindo a demostrar a importância da georreferenciação da informação em saúde, em particular em áreas como a prevenção. A construção de estratégias de prevenção e a atuação para a mitigação do impacto das doenças passa, cada vez mais, por compreender os determinantes em saúde no ecossistema em que vivem as populações”, sublinha o especialista em Medicina Geral e Familiar. Assim, esta plataforma será um importante contributo para que investigadores, profissionais de saúde e decisores possam ter em conta o perfil da população nacional para ambas as patologias.
“Entre outras vantagens, o Pneumoscópio vai permitir traçar o perfil de ambas as patologias na respetiva área de atuação, ao mesmo tempo que nos permitirá visualizar a sua associação com diferentes indicadores sociodemográficos, desde o Produto Interno Bruto per capita (poder de compra), ao grau de escolaridade, passando pela qualidade térmica habitacional, pela taxa de sedentarismo por faixa etária ou pelo índice de poluição atmosférica”, acrescenta Rui Costa.
São internadas, diariamente, 81 pessoas por pneumonia e, sendo que morrem em média 16 pessoas por dia. “O conhecimento e espacialização geográfica dos dados de internamento, e a sua correlação com dados sociodemográficos e fatores de risco, permitirão fazer análises a nível regional e local, constituindo-se assim como uma ferramenta de apoio à decisão e ao desenvolvimento de planos de ação. Com o lançamento do Pneumoscópio, ficarão disponíveis os dados de internamento nacionais, e muito em breve por ACES, bem como os fatores de risco. Por agora, será particularmente interessante observar os dados de mortalidade e correlacioná-los com os dados sociodemográficos”, perspetiva o especialista.
85% dos casos de meningite em adolescentes são provocados pelo grupo B
O pediatra Sérgio Neves reforça quais são os principais fatores de risco para a propagação do meningococo B, causador de 85% dos casos de meningite em adolescentes.
O Programa Nacional de Vacinação (PNV) foi atualizado em outubro de 2020 com a inclusão da vacinação para meningococo B (para crianças nascidas a partir de 2019) e papiloma vírus para rapazes aos 10 anos. Contudo, na adolescência a vacinação para a doença meningocócica pelo serotipo B mantém-se em extra-PNV, pelo que os níveis de “proteção” são subóptimos. Esta situação é preocupante já que em Portugal, 85% dos casos em adolescentes são provocados pelo grupo B.
Na adolescência, a socialização (inclusão no grupo de pares) é fundamental, o que torna os adolescentes especialmente vulneráveis a contágios, nomeadamente pelo meningococo. É comum a partilha de bebidas, alimentos, telemóvel, um cigarro, o estar em proximidade em grupo (viagens de finalistas/acampamentos, intervalos de escola, ginásios). Outro aspeto de risco é a vivência da sexualidade (em media pelos 14-16 anos) como forma de contágio (beijos/ contato sexual).
Acresce ainda a globalização com mobilidade crescente de pessoas entre países e escolas com crianças e adolescentes de diferentes contextos culturais e sociais.
A infeção grave pelo meningococo, sépsis (infeção generalizada) e/ou meningite, pode ser potencialmente fatal ou causadora de sequelas (epilepsia, défices de audição, paralisias). Se pensarmos que é nesta 2ª década de vida que se determina projetos futuros, vida de relação e a qualidade da saúde na vida adulta, uma doença grave conduz a uma perda significativa!
Os adolescentes e adultos jovens são frequentemente portadores, ou seja, mantêm a bactéria na via respiratória superior e podem transmiti-la a terceiros (irmãos mais novos ou outros familiares, colegas de turma/ de atividades extra-curriculares em ambientes fechados) ou ter a doença, em particular se a sua imunidade ficar comprometida ou sofrerem trauma grave da base do crânio (por ex. acidentes graves: quedas, acidentes de viação).
Muitas vezes os sintomas iniciais são similares a outras doenças comuns como constipações/gripes ou mesmo a covid-19: febre, dor de garganta, dor de cabeça ou dores nos músculos. E em poucas horas pode agravar-se o quadro (vómitos, intensificação das dores de cabeça/ pernas, prostração, pele marmoreada/fria), pelo que não deve ser adiada a avaliação num serviço de urgência, mesmo no contexto atual de pandemia – o tempo conta para diminuir a mortalidade e a gravidade!
Assim, a vigilância da saúde do adolescente deve ser cumprida (consultas dos 10 anos, 11-13 anos, 15 -18 anos). Estas consultas são oportunidades de avaliar o crescimento/puberdade, ajudar os pais no seu papel de educador, auxiliar na definição de projetos futuros e de rastrear situações de risco (doença mental, consumos, dificuldades na sexualidade e na relação por exemplo). Como medida preventiva a vacinação extra-PNV (meningite B, varicela, hepatite A, papiloma vírus nos rapazes com mais de 12 anos) deve ser discutida nessas consultas, adequando a intervenção ao adolescente e seu contexto.
Cada vez mais a prevenção deve anteceder a doença. No caso do meningococo, ainda que rara pode ser grave, e não há forma de saber quem será o seu alvo, exceto se estiver protegido!
50% dos pais adiaram ou cancelaram a vacinação dos filhos contra a meningite devido à covid-19
77% dos pais pretende reagendar a vacinação, mas 21% disse não ter essa intenção, pois tem receio de contrair covid-19.
Um estudo recente revela que 50% dos pais adiaram ou cancelaram a vacinação agendada dos filhos contra a meningite. As recomendações para ficar em casa, e as limitações de circulação provocadas pela pandemia covid-19 foram os principais motivos para esta situação.
O estudo foi realizado pela Ipsos para a GSK, em oito países – Estados Unidos, Reino Unido, Itália, França, Alemanha, Argentina, Brasil e Austrália, no qual foram entrevistados quase 5 mil pais de crianças dos zero aos dezoito anos.
Os resultados mostraram que as principais razões que levaram ao atraso ou cancelamento do agendamento das vacinas, apontados por 50% dos pais, foram os regulamentos que obrigaram ao confinamento e à permanência em casa (63%); preocupações de ser contagiado com o vírus SARS-CoV-2 em locais públicos (33%); e a necessidade atual de cuidar de alguém que contraiu covid-19, como um membro da família ou os próprios (20%).
A maioria dos pais (95%) referiu que o seu filho vai retomar, pelo menos, a uma das dez atividades listadas que envolvem o contacto próximo com outras pessoas, logo que as restrições sejam levantadas, e 76% afirma que o seu filho vai socializar com grupos de amigos ou familiares presencialmente – fatores de risco para a transmissão da bactéria que provoca a meningite.
O vice-presidente sénior e diretor médico da GSK Vacinas, Thomas Breuer, afirma que “conhecer os sinais e sintomas da doença doença meningocócica e procurar aconselhamento sobre todas as opções de proteção, incluindo vacinação, pode ajudar a evitar surtos de meningite, especialmente preocupantes no contexto da pandemia atual. Também pode fornecer mais garantias quando as restrições forem suspensas e as crianças retomarem o contacto próximo com outras pessoas em ambientes fechados, como creches, escolas ou encontros de família”.
O estudo revelou ainda que 77% dos pais pretendem reagendar a vacinação dos seus filhos contra a meningite, no entanto 21% respondeu que não o irá fazer, sendo a preocupação em contrair covid-19 em espaços públicos a razão para o não reagendamento.
A doença meningocócica invasiva é grave, pode provocar a morte em 24 horas, sendo a meningite bacteriana a que mais ameaça a vida em países desenvolvidos. É pouco frequente – o número de casos específicos relatados em cada país varia entre 0,1 e 2,4 casos por 100 mil habitantes, mas cerca de uma em cada dez pessoas que contraem a doença morrem, mesmo com o tratamento adequado.
Além disso, cerca de 20% das pessoas que sobrevivem à doença, podem sofrer uma deficiência física ou neurológica importante, como a perdade de membros, audição ou convulsões. A doença é mais incidente no grupo mais vulnerável: bebés e crianças pequenas, seguido por um pico mais baixo em adolescentes e jovens adultos.